Todo mundo já passou por alguma situação na vida, na qual ela fala: "Cara, isso daria uma história!"
Pois é, eu e uns amigos passamos por isso e ficamos um mês falando "Nossa, moh história", "Vamos escrever isso, um dia". Pensamos até em mandar pro quadro Retrato Falado do Fantástico na época, onde eles encenavam histórias contadas por telespectadores.
Passaram-se quase cinco anos e...Nada. Não escrevemos absolutamente nada. Até porque a única que gosta de escrever por prazer, sou eu, e sempre me esquecia de fazer isso.
Eis que vou escrevê-la agora. Finalmente!
No dia
11 de setembro de 2005, eu, meu irmão Matheus,sua namorada na época Thaislla, minha prima Alessa, seu namorado na época Luiz, minha tia Rosângela e mais dois amigos, Paulo e Mateus fomos a um dos maiores eventos que existe aqui em BH, o Pop Rock Brasil. O "POP", como nós chamamos aqui, é um festival de rock que lota o Estádio do Mineirão(e acaba com a grama), onde tocavam as melhores bandas do estilo, no Brasil, tocavam né, porque hoje em dia o nível caiu e muito. Mas voltando a história.
Lá vamos nós felizes e empolgados, afinal era o nosso primeiro pop, tínhamos feito mais de 14 anos e já podíamos entrar.
Chegamos no Mineirão e nos deparamos com uma multidão de gente, louca pra entrar, muitos já estavam bêbados, drogados, e nós todos novinhos olhando tudo aquilo ficamos chocados e com um pouco de medo. Como estávamos com um adulto,no caso, minha tia, não preocupamos muito.
Fomos pra entrada abarrotada, com todo mundo se empurrando, se espremendo. Ô maravilha!
Meu irmão e o Luiz, um com 16 anos e o outro com 17 resolvem comprar cerveja, e lá estão eles bebendo, se achando os mais velhos, quando chega o Juizado de Menores:
- Carteira de identidade, por favor!
- Er... moço...peraí, éééé... - isso enquanto entra em pânico.
- Vocês não têm idade para beber. - enquanto diz , revira a garrafa e entorna o liquído nos pés dos dois.
Situação mega humilhante pra eles e super engraçada pra nós. Depois desse episódio tragicômico. Resolvemos entrar. Nessa hora um "fidumaégua" resolve brigar, e aí arma o circo todo. Eu desespero e começo a gritar " Aleeeessa, Aleeessa,Matheus, tiiiiia!", os perdi de vista por uns dois minutos e fiquei assim. Senti alguém pegando no meu ombro, era meu irmão, eles estavam bem atrás de mim(hehe, burra!).
Outra briga. Os policiais entram em cena, a lesada aqui no meio dela, um estúpido mais animal do que o cavalo que ele segurava, me empurra gritando " Sai da frente"! E eu bato num carro que estava ali perto. Meu coração foi na boca de susto. O-d-e-i-o brutalidade! Ainda mais vinda de um PM.
Finalmente, chegando perto da entrada, começa uma muvuca, outro empurra-empurra, e o Luiz grita:
- ROUBARAM MEU CELULAR!
Ele puto de raiva, quer achar inutilmente o ladrão. Depois de convencido de que em meio a 30 mil pessoas, tentar achar alguém era burrice. Deixou o celular pra lá. Voltamos em direção a entrada. Outra muvuca. E o Luiz grita novamente:
- ROUBARAM MEU INGRESSO!
Pronto, agora fudeu de verdade! Pegar o ingresso de volta, impossível, entrar sem o Luiz era sacanagem, comprar outro ingresso na porta era fria. Não sabíamos o que fazer.
Saimos da muvuca, fomos para o posto policial dar queixa, nisso todo mundo puto da vida. Chegando lá, o policial nos diz que era pra fazer queixa na delegacia mais próxima, que ficava há uns 10 quarteirões, senão mais, de onde estávamos. Lá vamos nós,
a pé, prestar queixa. Lembrando que nós chegamos ao estádio às 13horas e isso ja eram 16.
Depois de uma caminhada, chegamos ao local. Pra alegrar mais o dia, havia uma fila enooorme de outros infelizes que sofreram o mesmo que a gente. Fora o entra e sai de policiais carregando gente que portava drogas no evento. Quando o relógio marcou 17 horas, o show havia começado e nós nem tínhamos sido atendidos. Eu começei a ficar nervosa a gritar, xingar todo mundo. Falar palavrão. Quando soltei a besteira de falar pra deixar o Luiz ir embora e a gente voltar pro show.
Minha prima obviamente, apelou e gritou:
- "É, vamos fazer isso mesmo, Natália, o namorado não é seu,né mesmo?!
Eu ignorante, ainda retruquei :
- Eu só acho que não é justo que 7 pessoas percam o show por causa de uma, só isso. Posso?
- Então vai sozinha! Sobe o morro e entra sozinha, porque se a gente veio em grupo é pra permanecer assim, sabia?
Nessa hora, eu acordei pra vida, vi que não estava tendo senso de solidariedade com o próximo (acho que não tenho muito isso, pra ser sincera), me acalmei e disse:
-Foi mal, eu só fiquei nervosa.
Depois daquilo, acho que não precisávamos de uma briga pra temperar as merdas do dia. Ficamos em paz.
Depois de 3 horas, ás 19 em ponto, saímos da delegacia, com a ocorrência em mãos. Eu e meu irmão já estávamos em cólicas porque queríamos ver
O Rappa, e perder o show deles ia arrasar com o nosso dia de vez. "Vam´bora gente...corre, que eu quero ver o Rappa!"
Àquela altura ninguém tinha forças pra voltar a pé. Chamamos um táxi, imploramos pro motorista levar 8 pessoas com uma viagem só. Ele aceitou, mas uma das condições era alguém ir no porta-malas. Enfiamos meu irmão e a Thaislla la atrás. "Aguenta firme, que é rapidinho, respira fundo!" Bam. Fechamos eles lá dentro. Nos apertamos no carro, pra caber duas moças e três meninos gigantes. Ô sufoco, meu Deus! "Aceleeeera motoooor, a gente quer chegar logo."
Urrú! Voltamos ao Mineirão. Já eram quase 8 da noite, tínhamos perdido 3 horas de show, a entrada estava vazia. Óbvio, ninguém além de nós que sobramos legal, iria tentar entrar agora.

Portaria 1. Minha Tia vai mostrar a ocorrência:
- Moça, roubaram um ingresso nosso, já fomos à delegacia e eles mandaram apresentar isso para poder entrarmos.
- Olha, você vai ter que se dirigir a portaria 5, que o responsável por esse tipo de entrada, está la.
Quem conhece o Mineirão sabe que chegar a portaria 5 não é só dar dois passos, é dar a volta no estádio, que é imenso! Chegamos a portaria 5 :
- Moça, roubaram um ingresso nosso, já fomos à delegacia e eles mandaram apresentar isso para poder entrarmos.
- Olha, você vai ter que se dirigir a portaria 7, que o responsável por esse tipo de entrada, foi pra lá.
Nesse momento eu já estava escutando o Skank tocando
"Vou deixar a vida me levar, pra onde ela quiseeer", mas ali, a vida só estava me levando de portaria em portaria. Droga!
Chegando lá, o guarda que estava na porta leva a minha tia pra dentro. E lá, ela ficou por longos minutos. Enquanto isso, percebemos que havia mais uns 10 revoltados como a gente, esperando por respostas. Todos, já estressados, com vontade de quebrar aquele estádio, começamos a gritar um refrão muito singelo: IUIUIU VAI PRA PUTA QUE PARIU, ROUBARAM MEU INGRESSO, NINGUÉM SABE, NINGUÉM VIU!
E nada da minha tia voltar. Já eram quase 21 horas. 21 - 16 = 5 . Já estávamos há 5 horas naquela luta pra entrar!
De repende minha tia sai, chorando:
- #$#$#%*¨@, que droga! Eles falaram que não podem fazer nada, não! Tem muita gente que mente e faz isso pra entrar!Eles não estão acreditando. Que saco! - ela desabafou.
Ela chorou, eu chorei, minha prima chorou, menos os homens, que ficaram apenas irritados. Apenas? Não. MUITO irritados, seria melhor!
Nessa hora, o Luiz resolve ir embora, afinal só ele tinha perdido o ingresso. Mas ali, depois de tudo que passamos, tinha perdido a graça entrar.
Foi quando minha tia falou:
- Vamos tentar pela última vez! Vamos pra portaria 4.
Demos outra volta e chegamos. Minha tia vai na frente pra falar as mesmas frases de sempre. E eu fico atrás, do lado de um Policial. De repente, um instinto artístico melodramátrico toma conta de mim e eu começo a chorar e falar:
- Moço, olha pra mim, olha pros meus amigos, vê se a gente tem cara de quem precisa roubar. Olha bem.
Ele olha, percebe que nós somos aparentáveis, um pouco acabados depois daquilo tudo. Mas, éramos bonitinhos.
- Não,não têm. Mas, porque você está falando isso?
- Moço, a gente tá desde 4 horas da tarde tentando entrar porque roubaram o ingresso do nosso amigo, e ninguém deixa, só ficam falando pra gente trocar de portaria. Eu tô cansada disso, a gente é honesto e vem uma bosta leva o ingresso e a gente paga o pato, NÃO É JUSTO! - nessa hora eu entrei em prantos.
- Vou ver o que posso fazer. - ele vira e entra no Estádio.
Antes mesmo que ele voltasse, minha Tia nos chama lá de dentro e diz que agente
pode entrar.
Parecia que um coro estava cantando nas nossas cabeças
"Aleluia, Aleluia, A-le-lu-i-aaaa"!A mulher com quem minha tia havia conversado logo na primeira portaria, viu que a gente estava tentando entrar há muitas horas e disse "Não,
vocês estão falando a verdade. Ninguém fica esse tempo todo tentando entrar. Se fosse mentira, já tinham desistido. Podem entrar."
Entramos um por um, gritando:
"Até que enfim,conseguimos". Lá dentro nos abraçamos, como se fosse uma vitória. E pensando bem, foi sim! 5 horas tentanto provar uma coisa, não foi fácil.
O policial olhou pra mim e acenou rindo, eu retribui.



Saímos correndo pra ver o show, e chegamos no intervalo entre uma banda e outra. Quando entra nada mais nada menos do que
O Rappa. Putz, não podia ter "começo" de show melhor que aquele, eu e meu irmão piramos! Nosso pés que estavam doendo de tanto andar, estavam novinhos em folha, o cansaço sumiu e todo o restinho de Pop Rock Brasil valeu á pena! Restinho não, nosso show começou às 21 e terminou às 2 da manhã, aproveitamos bem!
E quando o show acabou, nós dissemos:
- Isso daria uma história!
E lembrem, era dia
11 de setembro.