sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Por favor,(não) me desencalhe!

SÁBADO, dia 14 de fevereiro (casa da Vovó)

Estava eu e minha querida Vovó assistindo "O melhor do Brasil" na Record. Não, não fui eu que escolhi esse programa, eu prefiro os piores do Brasil mesmo. O melhor já é assim...
Enfim, foi quando começou o quadro "Vai dar namoro" e eu pensei "poxa, que programão,hein". Pra quem não sabe, essa é a hora em que várias pessoas que se inscreveram, tanto homem quanto mulher, vão a Tv para tentar arrumar um namorado(a). E lá as pessoas vão se escolhendo como se escolhe a batata frita em um restaurante.
Minha gentil Vovozinha, vira pra mim e diz:
- Ô Binha, porque você não vai nesse programa? Quem sabe assim, você não passa o sábado em outro lugar e não aqui comigo.- ela riu, e eu senti que isso foi crueldade.
-Tá bom, Vó. Vou lá virar carne no açougue, beleza?

SÁBADO DE CARNAVAL, dia 21 de fevereiro (minha casa)

Eu descabelada, com minha roupa de mendigo que sempre uso em casa(não dispenso o conforto que elas oferecem), sentada no sofá, há umas quatro horas vendo vários programas ao mesmo tempo. Minha mãe chega na sala e diz:
- Levanta essa bunda, daí menina. Faz alguma coisa. Vai pra rua, senta no passeio, quem sabe seu príncipe não passa lá fora, hoje?
Antes eu odiava quando ela falava "Meu princípe", como se eu acreditasse nisso até hoje, e mais, como se estivesse literalmente à procura de um. Hoje eu apenas ignoro e posso até rir dependendo da situação.
E depois disso, sim, eu me levanto do sofá, me dirijo ao computador, sento novamente e fico aqui por mais 4 horas.
Desço (o pc fica no segundo andar da minha casa), ainda descabelada e sem tomar banho, e ela diz:
- Nossa senhora, tá precisando de um namorado mesmo. Quando namorava, você não andava assim.
Sério, mãe? Obrigada por me lembrar. Não é que eu não goste de me arrumar, é só que pra mim, arrumar e ficar em casa são duas coisas que não combinam.
Continuei assim praticamente todo o carnaval.

QUARTA-FEIRA, dia 25 de fevereiro (shopping)

Meu irmão e sua namorada Ana fazendo aquelas gracinhas típicas de bobos apaixonados. Eu olho, reviro os olhos e solto um "Aff". Eles dizem:
- Tadinha, se tivesse um namorado, não falaria isso.


QUINTA-FEIRA, Dia 26 de Fevereiro (cursinho)

Agora sim, arrumada. Porque sair de casa combina com me arrumar. Chego antes dos meus "colegas de classe", guardo lugar para os quatro, que por sinal,estão todos com uma aliança prata no dedo direito, ou seja, todos estão namorando.
Eles chegam, se sentam e já começam com a piadinha do dia. Que é me zuar pelo fato de eu estar solteira(segundo eles, encalhada).
- Iai, Nat desencalhou nesse Carnaval? - um deles diz.
- Não. Pra ser mais exata, a coisa mais perto de um romance que eu cheguei foi terminar de ler Eclipse.

Terminado os comentários sobre o nada do carnaval,porque pelo menos isso todos nós tivemos em comum, ninguém fez absolutamente nada. Aí logo vem a brincadeira do cursinho, que consiste em falar que qualquer pessoa do sexo masculino um pouco mais afeiçoado que estiver passando na nossa frente, é meu futuro namorado.
- Ah,lá Coelho!Gatinho, ó!- apresento à vocês, meu apelido "Coelho".
- Olha pra ele, que ele é todo seu!
- Joga seu charme!
- Ensina o exercício de química pra ele,vai!

OH MY GOD!!!

Sexta-feira, dia 27 de fevereiro (cursinho)

IDEM QUINTA-FEIRA


E aí, fazendo uma retrospectiva desses maravilhosos(ironia mode off) dias, eu percebo que em nenhum momento eu me vi falando "Ah, eu preciso encontrar meu príncipe, oh eu vou morrer!Me salvem!Preciso de alguém, agoooooora!"
Não, eu não falei. E mesmo que quisesse ninguém nunca ouviria isso de mim, pois se tem algo que todos falam de mim, além disso tudo, é que eu sou fria, uma coisa que eu nego veementemente e tenho certeza absoluta de que não sou . Não fria, mas orgulhosa sim, e muito!
Tudo bem, que de 7 amigas, apenas uma, não está namorando, assim como eu. Mas e daí?
Pra quê essa pressão?
Não vou dar uma de feminista e auto-suficiente e dizer que não preciso dos homens. Não é verdade. Eu preciso sim.
Só não estou afim de agir como um leão age atrás de comida, à caça. Não mesmo. Sempre achei e continuo achando, que o que tem pra acontecer acontece. Um empurrão ajuda, mas desse jeito, estão me chutando e lançando pra cima das coisas.
Também não posso dizer que fico chateada, como boba que sou, também entro na zueira e acabo divertindo às minhas custas.
Só queria dizer à eles que tanto brincam com a minha cara, que eu estou bem.
E que quando eu arrumar um namorado, ele vai vir de Volvo prateado,cabelos cor de bronze, pele branca, olhos que mudam de cor e vai dizer: " E o leão se apaixonou pela Coelho" (piada interna).

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Fuga inútil




Juliana não podia acreditar no que via. Seu coração pulsava freneticamente, sua respiração falhava, seus olhos brilhavam de um jeito que todo o seu corpo denunciava a qualquer mero observador, que algo mexia com ela, algo a desconcertava fortemente. E ele não era um mero observador, ele perceberia seu "efeito" mesmo que Juliana estivesse dormindo. Não porque fosse presunçoso, mas sim porque as reações dela eram sempre as mesmas. Sempre intensas.
Ela via há não mais de dez metros à sua frente, tudo aquilo que havia recusado a ver e sentir durante muito tempo. Foram três anos vazios de emoções, nos quais Juliana se recusara a sentir algo além de "passageiro", como ela mesma definira. Três anos em que tudo o que lhe trazia rubor à face, fora escondido, guardado à chaves em algum canto do seu subconsciente, deixando-a assim viver sem os fantasmas das lembranças e seguindo uma vida considerada normal.
Mas ali, com toda aquela proximidade, seus esforços foram em vão, e tudo o que fora escondido veio à tona. E mesmo com sua respiração falhando, ela pôde perceber que estava viva. Que realmente respirava, e sim, ela tinha um coração. E suas batidas doíam tanto, como se fosse um músculo atrofiado que começava a ganhar movimentos. Já fora de controle, Juliana começou a relembrar momentos, que antes eram duramente reprimidos.
Rapidamente eles estavam em seu quarto, numa conversa habitual, olhando fotos, comentando as poses, os fatos antigos. Até ali, eles eram apenas amigos. E de repente ele diz:
- Tenho saudades de passar dias inteiros rindo de você, me fazia bem.
- Eu também, é tão doído lembrar disso tudo. - ela disse.
E foi só o que disseram. No mesmo instante eles se abraçaram com um desejo incontrolável de se tornarem um só, seu olhares se encontram intensos, querendo mostrar o que não se podia ver, como se através deles cada um pudesse entender o que um significava para o outro. Seus lábios se tocaram com tamanha ansiedade. Um buscava ao outro como se aquilo doesse, mas também como se fosse vital. E assim, eles se amaram ardentemente durante toda a noite. Não havia perversão em toda aquela ânsia selvagem de prazer, eram apenas atos reprimidos que finalmente tinham sido libertados. Fora a primeira vez deles, como um casal.
Depois daquela noite, como que por instinto protetor, o contato entre os dois se cessou, não se falaram, nem se viram mais. Tanto ela quanto ele, fugiram do amor que sentiam, com medo de sofrer (mais). Pois, um amor que lhes tirava o fôlego e a razão de ser, senão pelo outro, não podia ter um final muito feliz. Alguém sairia irremediavelmente machucado se aquilo tomasse proporções maiores, ou seja, um relacionamento oficial. Assim pensara cada um dos dois, em todas as noites em que tentaram esquecer "aquela noite".
Agora eles estavam ali, próximos. Não mais em pensamento e sim em um ambiente real.
E coreograficamente, como se ambos tivessem se desprendido das mesmas lembranças e recuperado o equilíbrio, foram dando passos adiante, enfim se aproximando, até que pouco mais de vinte centímetros os separavam.
Os olhares se encontraram, os corações disparavam e as mãos se tocaram. De repente ele diz:
- Tenho saudades de passar dias inteiros rindo de você, me fazia bem.
- Eu também, é tão doído lembrar disso tudo. - ela disse.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Olha, que Selo Maneiro!

Olha que alegria, que beleza! Um selo para o blog! O meu semi-conterrâneo, Alexandre que vive falando pras paredes, resolveu me presentear com um selo muito maneiro!(Rá, criativa, eu hein?)

Assim como todos os outros ele tem regrinhas a serem seguidas, e assim como todos os dias, eu estou com preguiça e... Adivinhem? Não vou mandar para 10 blogs, assim não terei de avisar ninguém. Time is money, e eu estou poupando o meu. Pode parecer desrespeito ou falta de consideração, mas no momento eu estou com pressa, dor de cabeça,preguiça e sem 10 nomes para indicar.
A única regra respeitada será a de colocar o link do blog que te indicou, e o link do Alexandre já está aí em seu nome e de seu respectivo blog!

Meus sinceros agradecimentos ao Falando pras Paredes! Que por sinal, é um blog muito maneiro!

Taí o bonitinho:

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

PQPÉDIA


A Pepsi criou uma nova campanha, onde incita as pessoas a questionarem o por quê das coisas. Confesso não ter gostado muito da propaganda de tevê,em que depois de uns cinco porquês, a garota esquece o namorado e beija o tal questionador. Achei sem graça e idiota. Afinal ninguém sai beijando por aí porque bebeu pepsi e um estranho a fez achar que seu namorado te traía. Enfim, não achei graça.
Mas quando achei o site Porquepédia, minha opinião mudou um pouquinho em relação à campanha. O site foi criado para as pessoas fazerem perguntas sobre diversas coisas, umas cômicas, outras engraçadas, curiosas e pertinentes.E qualquer um pode ir lá e deixar a sua resposta, aparecem cada uma!
Eu simplesmente adorei a idéia, pois sou extremamente questionadora, mesmo que não expresse isso verbalmente, ás vezes fica só em pensamento.
Depois de vasculhar o site todo, selecionei os PQ´s e suas respostas que gostaria de ter feito e os que achei mais interessantes. Aí vem eles:

Por que quando se joga video game, as pessoas ficam movendo o controle para os lados e para cima e para baixo quando o personagem precisa andar, pular ou abaixar ?

R:Porque está jogando wii ! :D (ooooooooh, agora sim, eu entendi!)

Por que o nome do filme é naufrago se o acidente é de aviao?? (essa, eu também nunca entendi, viu)

R: Não teve resposta, acho que não há explicação mesmo.Ou o nome deve estar relacionado ao fato de ele ficar em uma ilha, não sei.

Por que os Flinstones comemoram o natal se viviam antes de cristo ?

R:Por que foram criados depois de Cristo! (simples e objetivo, oras!)


Por que tudo junto escreve separado e separado escreve tudo junto?
R: 'tudo junto' vem do latim 'tudojuntus', enquanto separado vem do grego 'separa dois' (E eu pergunto, porque as pessoas inventam tanta lorota?)


Por que as mulheres abrem a boca quando pintam o olho?
(grande mistério, já fiz um teste pra não abri e nunca consigo,droga!
R: Outra sem resposta. Eu acho que é porque fazemos isso pra passar o batom, aí ridiculamente, achamos que os olhos precisam disso também, é instantâneo.


Por que as mulheres mais gatas são as que menos ficam na internet?
( Essa me ofendeu.)
R: Porque são as mais burras e não sabem usar um computador direito.(eu juraria que essa resposta era de uma mulher, se não tivesse o nome do autor embaixo).


Por que não havia uma lagoa no filme " A Lagoa Azul"?

R:Pra que uma lagoa quando se tinha uma gostosa daquelas como a Jojovich!( não tive dúvidas quanto ao sexo pra essa resposta ¬¬)

Por que que o teclado do computador não está em ordem alfabética?

R:Foi realizado um estudo para saber quais letras são mais frequentes na língua inglesa, e dispostas no teclado de forma a facilitar a digitação. Esse teclado que utilizamos é conhecido como QWERTY.(huum, interessante.)


Onde fica o bichinho da goiaba quando não é época de goiaba????

Por que todo "brasileiro" que viaja para o exterior, e diz que lá é 100 vezes melhor, volta?


Por que os personagens da Turma da Mônica a chamam de baixinha se todos são do mesmo tamanho?

Por que quando estamos perdidos e procurando um endereço no carro, abaixamos o volume do radio?
Por que é que os kamikazes usavam capacete?
Por que o supermercado 24 horas tem portas?
Como a placa "Não pise na grama" foi colocada lá?

A última e mais sacana:
Por que será que C O C A - C O L A é MIL VEZES mais gostosa que PEPSI?? (muita maldade,todo mundo já sabe mas, colocar em letras grandes no site da concorrência, aí já é sacanagem!)

R:Porque tem cocaína e cafeína pra deixar todo mundo doidão e viciado!(quando a Coca foi lançada ela tinha cocaína, mas hoje em dia só tem cafeína, pelo menos é o que divulgam.)



Se eu fosse colocar todas as que eu gostei, ficaria aqui até amanhã. Então eu vou parando por aqui. Visitem o site pra conferir tudo(se conseguirem né, a humanidade é muito questionadora, rá rá rá).

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Como assim?

Lá estava eu, curtindo o meu último final de semana á toa, navegando pelo site G1, quando leio:



UADÁRREL????!!! Pronto, o mundo já não está lá muito normal, agora as estátuas vão se reproduzir. Eu estou louca ou agora os seres inanimados também estão fazendo uma farrinha sem camisinha?
Deeeer! Não, nenhuma coisa nem outra.
Ou eu fui muito lesada ao ler as manchetes ou o duplo sentido foi usado de propósito pelo site.
Provavelmente os dois.
Com meu nível já aguçado de curiosidade elevado ao 10, cliquei pra ler a matéria.
Como já era de se esperar, as estátuas não "se" engravidavam. Na verdade um museu nos EUA chamado ,Ripley's "Believe It or Not" ("Acredite se Quiser", nome bem sugestivo pra mim),colocou em exposição duas estátuas africanas que têm o poder de engravidar.Baaah,Meu Deus como não pensei nisso logo?!(ironia off) Oh my God!Aposto que muitos homens morrerão de inveja,engravidar sem compromisso,imagina?.
Segundo a empresa, mais de 2 mil mulheres engravidaram depois que tocaram as estátuas.Nossa quanta potência,err digo PODER! O museu destacou que as jovens que querem engravidar podem tocar nas estátuas gratuitamente durante o horário comercial(não,não obrigada, tô bem assim, por enquanto).
Depois dessa, os tratamentos de fertilidade serão deixados de lado e as estátuas da fertilidade irão bombar no mundo inteiro!!!



Eu e minha falta de perspicácia! hunf

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O parque e o chocolate



Eu estava caminhando no Parque Municipal, num momento típico de filme meloso, no qual a protagonista anda sozinha pela cidade enquanto reflete sobre sua pacata vida. E este momento assim como nos filmes, acabou com alguém me acordando pra realidade.
Era uma criança, com no máximo 10 anos de idade. Um menino moreno de olhos castanhos intensos, cabelos lisos e raspados. Não aparentava ser um menino de rua, mas também não parecia ser de uma família rica. Ele estava sentado no banco à minha esquerda, e o modo como ele havia me olhado quando eu estava passando. Com um ar de curiosidade, mas também com um jeito de quem deseja algo, havia me desconcertado de tal forma que eu virei e me sentei ao seu lado.
Agora ele fitava o lago a sua frente, fingindo não me ver. Enquanto eu o observava e me perguntava por que uma criança estaria ali, sozinha. Sim, porque se alguém estivesse com ele, já deveria ter aparecido há muito tempo. Foi então que tentei iniciar uma conversa, pra ver se encontrava respostas.
- Olá – disse, com um tom ingênuo muito mal disfarçado.
- Oi – ele respondeu em um sussurro, que não teria escutado senão fosse a minha repentina atenção dedicada a ele.
- Eu me chamo Juliana, e você?
- Felipe – respondeu olhando para seus pés.
- Han... é... sua mãe escolheu um belo nome! – Meu Deus, eu falava igualzinho minha avó.
- Eu não conheci minha mãe – ele disse.
Nesta hora, eu quis mudar de assunto, pois sua última resposta tinha me deixado sem palavras. O que eu deveria dizer? “Olha, foi mal, eu só estava curiosa sobre você”, e deixá-lo ali? Não, não era isso que eu queria.
- Ah, sinto muito - foi o que consegui dizer – Qual é a sua idade?
- 9 – errei por apenas um ano!
- E quem está aqui com você? – Só mesmo uma criança para continuar conversando comigo, eu poderia muito bem ser uma psicopata ou pedófila, fazendo tantas perguntas a um estranho.
- Ninguém, moça, eu sou sozinho – ele abaixou os olhos novamente, como se estivesse envergonhado.
Agora sim, eu estava sem palavras. O modo como ele havia dito “eu SOU sozinho” ao invés de “estou”, tinha me feito sentir uma dó tão grande por ele, mas ao mesmo tempo me intrigara. E eu queria de uma maneira bem egoísta, ir mais fundo na conversa, saber da vida de Felipe, mesmo que isso lhe causasse dor. Então simplesmente prossegui com meu relatório.
- Como assim, Felipe? Onde está sua família?
- Eu não tenho família – ele respondeu olhando para baixo, como sempre.
- Mentira sua! – eu rebati – Como você chegou aqui, vestido, de banho tomado, alguém com certeza cuida de você!
- Moça, eu fugi... – agora ele finalmente olhara pra mim. Foi aí, que eu percebi que eu o estava torturando, porém sem razão alguma, eu não conseguia parar.
- Fugiu de onde? Da sua casa?
- Eu também não tenho casa. – agora ele passara a olhar fixamente para as minhas mãos.
- Felipe, dá pra me explicar tudo direito, por favor?! – eu realmente mandara, como eu era curiosa!
- É que eu cresci em um orfanato, nunca conheci nenhum parente meu.
- Continue. – foi o que eu consegui dizer, eu sempre fui curiosa, mas desta vez estava passando dos limites com um pequeno estranho e não fazia o menor esforço para me controlar.
- Eu não gosto de lá, as “Tias” nunca me levam pra sair. Os meus amigos têm padrinhos, sabe, aqueles que nos dão ajuda e fazem passeios com a gente, mas eu não tenho um. Todos eles já vieram aqui e me falaram que era muito legal, por isso eu sempre quis conhecer. Aí ontem à noite quando as “Tias” dormiam, eu pulei a janela e fugi.
- Meu Deus, Felipe, como você é danado hein! – estava perplexa, só não sabia se era mais com a história dele ou com tamanha esperteza.
-É, as “Tias” falam isso pra mim. – ele sorriu pela primeira vez – Aí quando saí de lá, eu fiquei perguntando as pessoas aonde era o Parque Municipal e consegui chegar aqui – novamente ele fitava minhas mãos.
- E você gostou daqui? – já satisfeita com sua história, resolvi mudar de assunto.
- Sim!É legal! Tem brinquedos! – ele olhou para onde estavam os brinquedos eletrônicos. Eu sabia que ele queria brincar, mas não tinha dinheiro pra isso.
- Felipe, você quer ir lá? – de uma forma inexplicável, um senso de superproteção havia tomado conta de mim, e eu já me sentia responsável por ele.
- Quero, mas não posso – sempre olhando para baixo.
- Pode sim! – eu gritei e o levei para brincar.
A felicidade estampada naquele rostinho e o sorriso de criança, tinham me dado tamanha alegria, a qual eu nunca sentira.
Depois de brincar, nos sentamos na grama e ele voltou a olhar minhas mãos.
- O que você tanto olha, hein?
- O que é isso aí? – ele apontou para a sacola que eu segurava.
- Ah! É minha barra de chocolate. – havia me esquecido que tinha comprado para ir ao parque. Sempre comia quando estava triste.
- Hum, eu já vi na TV, as “Tias” dizem que faz mal.
- Faz nada, sempre como quando estou mal e fico bem.
- Eu fico triste ás vezes, mas nunca tive um pra comer.
- O quê?! Você nunca comeu chocolate?! – no meu mundo chocólatra, isto seria um absurdo. Acho que não só em meu mundo, mas ele vivia em outro completamente diferente do meu, e eu esquecera disso naquele momento.
- Não. – ele disse envergonhado, acho que meu espanto causara isso.
- Ah, hoje você irá comer! Toma, é toda sua, coma. – pela primeira vez na vida, eu dava meu chocolate à outra pessoa de bom grado.
Ele pegou a barra de minhas mãos e a abriu com tanta voracidade e rapidez, que eu comecei a rir. Então ele disse:
- Você não vai comer um pedaço?
- Não, eu não preciso mais desse chocolate.
- Então você não está mais triste? – como ele era espertinho, prestava tanta atenção nas minhas palavras quanto eu nas dele.
- Não. – mal sabia ele, que tinha salvado meu dia e sabe-se lá se muito mais. Vê-lo feliz tinha me feito esquecer o porquê eu estava ali, sozinha no parque.
- Que bom, moça. Eu também não estou mais triste. Acho que é o chocolate – ele riu– Vou falar pra “Tia” que não faz mal, não.
- Ah, mocinho! Você se lembrou de que tem que voltar, não é?
- Ah...é, tenho – acho que isso cortara o efeito do chocolate.
- Sua “Tia” não deve estar nada feliz com o seu sumiço! – eu o lembrei.
- É, eu devo ficar de castigo por isso.
- Vai mesmo. – como eu era péssima para confortar crianças.
- Moça, como é ter uma casa, uma família? – eu já começava a gostar de se chamada de “Moça”
- Ah, é bom. – foi só o que consegui responder. Não sabia como dizer a ele o quanto era maravilhoso sem deixá-lo triste. – E no orfanato?
- Meus colegas são legais, algumas tias também, mas é tudo dividido, eu queria ter uma mãe e um quarto só pra mim. – ele disse.
Era tão desconcertante, agora que ele estava me contando tudo. Era o que eu estava procurando desde o começo, mas não esperava esse tipo de reação minha.Não esperava me apegar a ele.
O dia estava escurecendo, foi então que olhei o relógio. Eram 17:40, não tinha percebido o tempo passar.
- Olha, Felipe, faltam 20 minutos para o parque fechar, então a gente tem que ir embora, tá bom?
- Tá bom. – ele murmurou. Seu rostinho angelical ficara triste e aquilo encheu meus olhos d’ água.
- Vamos indo? – peguei sua mão e fomos em direção a saída.
- Moça...
- Sim?
- Me leva pra “casa”? – ele me pediu com um olhar, que me lembrou o gatinho do Shrek.
- Levo, só me diz aonde é.
- É no Orfanato São Mateus.
Milagrosamente, eu sabia onde era. Porque eu nunca sabia onde eram os lugares na cidade.
Pegamos um ônibus e fomos contando sobre nossas vidas, no caminho. Cada um ouvindo e aprendendo histórias sobre mundos totalmente diferentes, ele da sua vida de órfão e eu de “moça de família rica”. Eu escutava atenta, parecendo mais criança do que o próprio Felipe. Para mim, era muito interessante descobrir um novo modo de vida. E o mais impressionante para mim, era ver, que mesmo com uma vida difícil, ele estava longe de ser digno de pena. Não chegava a ser a criança mais feliz do mundo, mas também não tinha ar de derrotado. Algo nele me dizia que ainda seria um grande homem.
Finalmente, havíamos chegado ao orfanato. Já estava me dirigindo a entrada, quando Felipe segurou a minha mão.
- Por favor, não entre. – ele pediu.
- Por quê? Eu quero conhecer as “Tias”.
- Não. Elas vão querer que você se explique. São muito chatas com isso. E você vai ficar de castigo também!
Com essa última frase, eu me lembrei de que ele tinha apenas 9 anos, mas que também estava certo. Se eu aparecesse, teria de explicar o que estava fazendo com ele o dia todo. E isso atrapalharia futuras visitas.
- Está bem, Felipe! Dá cá um abraço, vai!
Ele me abraçou, e eu senti um carinho imenso por ele, como se ele fosse meu irmão caçula que estava indo embora.
- Juliana, promete que vem me ver de novo? – ele me chamou de Juliana, pela primeira vez, isso deveria significar um pedido sério.
- Prometo, Felipe! Você agora é meu “chocolate”, esqueceu? – ele riu – Vou vir vê-lo sempre que puder, ok?
- Vou ficar esperando – ele disse olhando para meu rosto, não mais para baixo.
- Agora, anda que já está tarde. Tchau! – eu disse lhe empurrando.
- Tchau! – disse. Me deu um beijo no rosto, daqueles que só crianças sabem dar e se foi.
Mal sabia ele, que havia ganhado a tão sonhada madrinha, e eu uma alegria que não engordava e era muito mais real.
A partir daquele dia, eu desejei sempre ter as alegrias de Felipe. Aquelas, inocentes, simples e sinceras.
E eu voltaria ao orfanato o mais breve possível. Afinal, eu não vivo sem chocolate.