segunda-feira, 14 de março de 2011

Ser ou não ser seu patrão?

Seu Bené já havia sido dono de um bar, uma padaria e um trailer de hambúrguer. Todos foram investimentos falidos. O negócio não engrenou, não foi pra frente. O primeiro, por que logo após sua inauguração, abriram um mega barzinho dançante para jovens ao lado. Seus clientes nada fiéis migraram correndo para lá.

O segundo, porque um dos padeiros, num porre em hora errada, não cuidou da higiene e assou uma barata, aumentando o cardápio do pequeno estabelecimento. Pena que sua idéia genial não deu certo. Fecharam a padaria e o nome de Bené ficou tão sujo quanto a baratinha assada.

E o terceiro não deu certo, pois a sombra daquele inseto ainda pairava sobre a imagem de Bené. "É nisso que dá morar em cidade pequena, todo mundo sabe dos acontecimentos e eles ficam eternos na memória de todos, diacho." Assim ele pensava, em seus momentos de fúria.

Foi então, que em Agosto de 2008, Seu Bené resolveu abrir uma mercearia. Pensou que a memória da barata não afetaria este novo empreendimento, pois tudo estaria enlatado, engarrafado e lacrado antes mesmo de chegarem ao seu estabelecimento. Juntou suas economias e abriu sua lojinha, o nome não seria muito criativo, logo escreveu na placa:
MERCEARIA DO SEU BENÉ.


Começou bem, era a novidade do momento e logo todos começaram a fazer compras ali, muitos até mesmo só para verificarem se ele tinha aprendido a cuidar da limpeza. E tinha. Antes de tudo, Bené logo ensinou seus funcionários a zelarem primeiramente pela limpeza do ambiente. Estava tudo limpo e impecável, as vendas aumentando e ele lucrando. Finalmente ele tinha acertado um investimento. Ah, como ele estava feliz!

No mês de Fevereiro de 2009, quando já havia ampliado sua lojinha, Bené recebe a pior notícia desde que começara a prosperar. A cidade iria receber um supermercado de uma grande rede, daqueles que chegam e tomam conta do lugar. Ele sabia que não conseguiria concorrer. Diminuiu o estoque, abaixou os preços e demitiu seus funcionários. Era o começo da sua próxima falência. Até então estava dando pra viver, alguns clientes fiéis e da redondeza ainda compravam na pequena mercearia. Já era mês de agosto e Bené pensou, "17 de agosto, 1 ano do ponto", não podia imaginar que iria estar assim, quebrado.

O movimento foi caindo, caindo... Bené não podia superar as grandes ofertas daquele maldito supermercado e além do mais, as pessoas achavam muito mais chique irem lá e ficarem empurrando carrinhos e enfrentando filas só pra passarem os produtos na esteira rolante. Bando de deslumbrados idiotas! Seu Bené não podia mais sustentar aquilo, tinha que assumir sua falência, não dava certo com negócios, iria virar empregado, não nasceu pra ser patrão.

Um dia, ele disse à sua esposa:
-Amor, tô pensando em fechar essa budega!

Esta era sua decisão final. Até que um dia, depois de muito tempo sem nenhum freguês, um rapaz entra na mercearia e pergunta:

- Moço, tem macarrão instantâneo? Aconteceu um acidente lá no supermercado e parece que o estoque pegou fogo, queimou tudo.

- Poxa, vou ficar te devendo, estou sem miojo.

E agora, Bené?

Um comentário:

Pobre esponja disse...

Muito bom, que criativo.
E, noves fora a ficção, um empreendedor deve mesmo perceverar - mas sem torcer que estoques concorrentes peguem fogo.

bj
vou seguir
Pobre Eponja