terça-feira, 23 de junho de 2009

Teorias sem prática de um dia 12 - Parte II

- Prossiga com sua explicação. – Duda insiste.

- Bom, creio que o que acontece com a gente é o mesmo que ocorre com as ondas. Você sabe o que é isso, né? Lembra de ondas sonoras, magnéticas, na água, etc?

- Lembro, sim. A luz também é um tipo de onda não é mesmo?

- Isso aí. Mas indo logo ao que interessa, essas ondas podem sofrer interferência. E esta pode ser construtiva ou destrutiva.

- Han... Não faço a menor idéia do que seja, mas pelo andar da carruagem, nosso caso é a destrutiva. – Duda diz, com uma cara de quem não acredita no que está ouvindo.

- Você também não espera eu explicar, poxa. – Juliana reclama – A Interferência de ondas ocorre quando duas ou mais ondas estão “em fase”, ou seja, têm a mesma frequência, pense ritmo que fica mais fácil de entender. Quando essas duas ondas se encontram, cruzam uma com a outra, ocorre a chamada interferência.

- Huuuuum, tá clareando Ju, tá clareando. Continue.

- A Construtiva ocorre quando um vale, a parte baixa de uma onda encontra com o vale da outra, ou crista com crista, a parte mais alta. Quando isso ocorre é como se elas se somassem e ficassem maiores, entende? Já na Destrutiva, ocorre o encontro de vale com crista e nessa região não tem essa soma, é como se não tivesse passado nada ali.






- Nossa, captei vossa mensagem! Então, com essa aula toda, você quis dizer que os nossos relacionamentos estão sendo como Interferências Destrutivas. Eu, onda 1 encontro com onda 2. Durante um pequeno espaço de tempo nós pensamos que estamos na mesma frequência, mas logo depois, o “romance” acaba e ficamos como se nada tivesse acontecido, é isso?

- Exatamente, por isso que eu gosto de você. Pega a idéia rápido. – Juliana diz, satisfeita por ter sido entendida.

- E como solucionar isso, Ju? – Duda pergunta.

- Ah, não sei se tem solução não, viu. Acho que é só achando a nossa crista, se formos crista também, ou seja, alguém que combine conosco. Ou então aplicando a Difração.

- Difra o quê???

- Difração, Duda. É a propriedade que uma onda tem de contornar obstáculos ao ser interrompida parcialmente por ele. Sendo assim, quando você se deparar com problemas, seja de qualquer espécie, dê seu jeito, passe por cima e siga em frente.



- Interessante, já vinha praticando isso há anos e nem sabia. Mas também, não sou onda né.

- Sabe, a Física pode ser aplicada ainda mais nas relações. Eu ando “viajando” nisso há um bom tempo. – Juliana olha pra cima e começa a pensar.

- Que o seu professor ou qualquer pessoa relacionada ao ramo, não te escute. Amém. – Duda dá seu toque irônico a conversa.

- Pensa comigo, Duda. Newton explica as interações entre os corpos muito melhor do que qualquer sexólogo que você já encontrou. – diz Juliana enquanto toma seu quinto copo de chopp.

- Amiga, você já está bêbada? – Duda diz, brincando.

- Tô não, merda. Você pediu pra sair comigo, agora vai escutar o restante dos meus devaneios.

- Tudo bem, Ju. Desembucha logo, vai.

- Inércia. 1ª Lei de Newton, descoberta também por Galileu. Na ausência de forças, um corpo em repouso tende a permanecer em repouso e um corpo em movimento tende a se mover em M.R.U. Pronto, se nós ficarmos paradas esperando uma força externa vir e nos “mover”, vamos ficar eternamente no mesmo estado, sempre à espera de um empurrãozinho. É lei, amiga, lei. Deu pra entender? – Juliana diz, quase intimando Duda a concordar com ela.




- Caramba, pior que faz sentido mesmo. Me dá um pouquinho do psicotrópico que você anda tomando? Quero ficar doidona também.

- Você vai ver o que eu vou te dar. Hunf. – Juliana faz um gesto obsceno muito esclarecedor – Não posso esquecer da 3ª Lei de Newton também. A mais conhecida das 3, Ação e Reação. Quando um corpo A exerce uma força sobre B, este reage sobre A, com uma força de mesma intensidade e sentido contrário.

- Não tô acreditando que eu saí de casa pra aprender Física com você. Eu ia falar que suas aplicações na vida são muito interessantes, mas estou com medo que você se empolgue mais ainda . - revela Duda, já com a cabeça ancorada nas mãos.

- Vou fingir que não ouvi isso e prosseguir, ok? – diz Juliana enquanto dá um tapa em Duda para que ela “acorde”. – Se ninguém exerce uma força sobre você, em quem você irá reverter essa força? Ninguém, ou seja, está sozinha, sem nada para interagir. Lembrando que a 3ª Lei, só é aplicada em corpos diferentes. Não existe ação e reação em um mesmo corpo. Isso daí seria o chamado 5 contra 1. – Juliana ri sarcasticamente, ao passo que fica toda corada quando diz bobagens.

- Quando eu acho que você já imaginou tudo o que era possível, vem esse tipo de coisa e me surpreende ainda mais! – Duda começa a rir e pede mais um chopp para brindar a bela explicação de Juliana.

- Não há nada pior do que coisas estáticas, Duda. Lembra da Inércia? Então...

- É mesmo amiga. Mas agora acabou, né? O Dia 12 está indo embora, Newton, Galileu e Einstein já morreram e não podem fazer mais nada por nós. Vamos mudar de assunto? Olhar ao redor, o que acha? – sugere Duda, piscando o olho.

- Vamos sim, Duda. Mas só pra finalizar. A única força que anda me atraindo é a força da gravidade. Tá me puxando e muito, amiga. Sabe como é né, a tal da força Peso.

- Maldita força Peso! Agora muda de assunto ou eu vou ter que forçá-la a parar de emitir ondas sonoras e praticar a ação e reação, empurrando o chão para que ele me empurre pra fora deste lugar. Em outras palavras, vou-me embora daqui.




- Tá bom, amiga. Agora vou me utilizar das ondas da luz e dar uma verificada no ambiente. Afinal o dia ainda não acabou, não é mesmo? Mas como diria Einstein, "a ciência não tem sentido senão quando serve aos interesses da humanidade."



Peço perdão aos físicos pelo modo leviano que tratei a ciência de vocês. É apenas uma historinha sem nenhum fim didático.

7 comentários:

Rubervânio Rubinho Lima disse...

Puxa, senhora natália Rabbit...
Digo mais uma vez.
A Senhora tem uma capacidade extraordinária para cativar-nos com esses contos em forma de diálogos.
Uma genialidade ímpar, sabia?
Mocinha, sugiro que comece a reunir esses diáloguinhos seus e pensar em publicá-los que, ao meu ver, seu estilo pode ser firmado com essa característica.
Você conhece alguns contos do Veríssimo nessa linha, né?
Tenho um livrinho de contos de Luiz Fernando Veríssimo que indico, caso você se interesse e queira procurar.
O Título é "O nariz e outras crônicas" (é da série "para gostar de ler")
Desse livrinho, eu te indico alguns contos que, de todos, gosto mais, como o próprio "O nariz", além de "Ela", "Os moralistas", dentre outros...
(Se não achar o livrinho, tenta achar os continhos avulsos, linda...
Um abração e bom São João.
Agora vou alí pular umas fogueirinhas, comer comida junina e arrochar no forró pé-de-serra.
Beijão e desculpa pelo jornal

Rubervânio Rubinho Lima disse...

Minha pessoa de novo...
Só outra coisinha...
Eu não gosto de interferir na escrita de ninguém, dando pitaco, mas, no dialoguinho, que tal se, de alguma forma, você atrelasse os desenhos explicativos do conto no próprio conto.
Quero dizer que, que tal, tipo, você dizer, de alguma forma que a personagem está, de repente, esboçando em um guardanapozinho do bar, pra a amiguinha

...
fica a dica, muié.
Beijão

Anônimo disse...

vc sabe que eu adoro ler oke vc escreve...
xD
eu li a primeira parte inteira antes de ler a 2... mas eu num terminei a segunda, pq fisca e matematicas no geral não entram mto bem na minha cabeça..
mas do que eu entendi, eh uma teoria mto criativa

xD

Alexandre Silva disse...

Nossa, como a Juliana é inteligente hein...não entendo como essa menina passa o dia 12 assim, tendo que dar aulas de Física. Como diria o célebre ídolo Luis Boça: "Puta mundo injusto, mêo"

Mas eu gostei do texto. Avisa pra Juliana que ela é um ícone literário, apesar de sua quedinha por Física. Aliás, ela q tava meio em dúvida do que seguir, será que ela já pensou em Física? :D

I'M BACK, BABY ^^
http://falandoprasparedes.blogspot.com

Alexandre Silva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paloma disse...

"- Amiga, você já está bêbada? – Duda diz, brincando.

- Tô não, merda. Você pediu pra sair comigo, agora vai escutar o restante dos meus devaneios."

HEAUHUEHAUHEUA

Entããão, li o texto anterior novamente e depois esse. O título escolhido não poderia ser melhor, ao qual a parte dois faz total jus. E dia dos namorados é deprimente, qualquer lugar cercado de casais é deprimente quando se está desacompanhada. Não digo que seja deprimente no sentido de ser depressivo, e sim de ser... sei lá, uma merda mesmo. Eu que não sou solteira fico como uma nesses momentos, olhando os pombinhos ao longe e secretamente fazendo piada de vosso romantismo exarcebado. Nada como levar na brincadeira uma situação não tão aconchegante, não?
Muito gostei do encontro no barzinho, representou perfeitamente uma conversa entre amigas que poderia ser até minha. Beijos!

Anônimo disse...

Oi Natália,
Preciso te parabenizar. Esse Texto ficou muito bom. Li tudinho e você escreve exatamente do jeito que eu gosto. Adoro contos, inclusive meu blog é 80% contos. E para melhorar a sua situação, eu sou quase uma física. Você tratou a ciência de um jeito bem simplório, mas só as associações feitas e correlacioná-la com o cotidiano já me mostra que você é uma pessoa de mente aberta, crítica, criativa e acima de tudo, inteligente.
Seu texto me fez lembrar muito uma carta que eu escrevi para um professor meu no terceiro ano, era aniversario dele e ele meu professor preferido, de física é claro, usei todas as leis que consegui e lembrava.
Particularmente não gosto da parte de ondas e luz, mas olhando por esse lado que você colocou achei até bem interessante.
Relaciono o seu texto também com um que escrevi a alguns dias no meu blog. Mas o assunto era matemática. O título é “Sobre retas paralelas – A geometria do Amor”, depois você dá uma passada lá.
Gostei muito do seu blog e do jeito que escreve. Vou te linkar (se me permitir) e cadastrar no meu Reader.
Boa Sorte e Apareça