terça-feira, 7 de julho de 2009

Por que os sábios(ás) se vão?

Paulo estava no jardim de sua casa, entretido com o que ele chamou de "meu dever para com ele", quando sua mãe Maria das Dores chega e pergunta:

- Por que você construiu uma cruz e está escavando o jardim, meu filho?

-Mãe, meu melhor amigo merece um enterro digno tal qual ele foi. Respeite o meu sofrimento, por favor. - ele disse enquanto cavava a tal "cova".

- Ai, minha nossa senhora! O Felipe morreu?!!! Jesus amado! Como se deu isso, menino? - D. das Dores se desespera.

- Não, mãe. Não foi o Felipe. Se bem que às vezes eu prefiriria que tivesse sido ele, talvez fizesse menos falta... - respondeu Paulo, como se estivesse com o pensamento longe.

- Fala logo, quem foi que morreu, Paulinho? Tô que não me aguento de aflição.

- O Soprano, mãe. Hoje eu acordei e quando fui ver, ele estava lá, estático e mudo. Durinho. - ele revelou, ao passo que descobria o defunto antes coberto por uma lona preta.

- Ah, Paulo Canário! Tenha dó! Eu aqui pensando que era um de seus amigos e você me fala do passarinho! - zombou Maria das Dores.

- Soprano era mais que um passarinho pra mim, mamãe. Por isso vou enterrá-lo aqui, para que ele esteja sempre por perto.

- Era é?

-Era. Nos dias ruins, só ele sabia "cantar falando" pra mim, o que eu de fato precisava ouvir. Os outros, você, Lipe e companhia, apenas ficavam citando frases de consolo formuladas pelo senso comum. Davam conselhos e conselhos, como se fossem receitas médicas. E quer saber de uma coisa, mãe? - neste momento, Paulo olhou bem nos olhos de das Dores e continuou - Eu ODEIO o senso comum, e mais, não suporto esses "conselhos medicinais" que não curam coisa alguma. - e retorna ao seu trabalho de coveiro.

-Paulinho, não fique assim. Você só está desiludido e triste com a perda do Soprano. Espere um pouquinho que isso logo passa - disse das Dores enquanto passava a mão na cabeça de Paulo -Olha, vou até permitir essa loucura de enterrá-lo aqui em casa, já que isso o conforta. E também vou lhe comprar outro pássaro mais bonito. O que você acha?

Paulo apenas olha ceticamente para sua mãe, sem ao menos respondê-la. Mas ela não desiste:

- Relaxe, meu filho. O tempo cura tudo, tudo mesmo, você vai ver.

-Aff.- ele suspirou - Soprano, meu sábio sabiá, volte, por favor! - Paulo sussurou para si mesmo, enquanto colocava sua pequena cruz sob o túmulo de Soprano.

8 comentários:

Marcos Pinheiro disse...

BRAVO!!! Parabéns mais uma vez pelo texto, menina!

.:.

É... Essas palavrinhas de conforto prontas são uma merda mesmo. E a mãe do menino é tão tapada que continuou a repetir as mesmas pieguices.

.:.

Gostei do layout, viu? Melhor do que o anterior - please, diz que vai se decidir?

Paloma disse...

O novo layout é tão bonito que torna mais confortável a leitura, sabia?, quanto mais a de um texto desses. É limpo, direto e expõe bem esses clichês consolativos. Mas, sabe, por mais batidos que sejam, dou crédito se percebo que a pessoa quer de fato ajudar, até porque quando sou eu que tenho que fazê-lo às vezes acabo não dizendo muita coisa pois compreendo não é todo mundo que tá pronto pra ouvir algo que não seja a realidade, mas que também merece consolo - e me complico toda.
E a posição da mãe, nossa, é tão ferina. Nesse momento eu me senti atingida como se fosse comigo.

Enfim, ótima como sempre. :)

Paloma disse...

Também gostava mais do outro, mas fui forçada a mudar pois quem hospedou as imagens do layout (o desenvolvedor do mesmo, suponho) as mudou de lugar ou excluiu e ficou horrível, cheio de quadradinhos do Photobucket. Aí lááá fui eu caçar outro layout. Ai, ai!
Parei, mas só por falta de tempo mesmo. Embora retomo.
E quanto aos conselhos, não sirvo pra nenhum dos dois x______x

Abraços!

Paloma disse...

*Embora retomo = logo retomo. De onde veio o 'embora', não sei :S

PCN disse...

Sou seu fã, que texto gostoso de ler!
Senso comum é uma merda mesmo, mas as vezes ele se torna necessário. No começo não se aceita, mas no final se enxerga que o senso comum tinha razão.

Porém mesmo assim é o que menos queremos ouvir. E por motivo parecido ao do garoto, eu sinto muita falta do meu cachorro. Ele me consolava e não vinha com papo furado...

Marcos Pinheiro disse...

Ah!... Por acaso a senhoria perdeu um passarinho??

Liipee disse...

BOA BOA !
gostei da idéia do texto, e o título foi o melhor..
gostei mesmo, escreves bem.
vim agradecer o comentário e acabei levando uma idéia para casa, bom.
gostei, parabéns.
voltarei mais vezes.
abrá.
:)

Liipee disse...

BOA BOA !
gostei da idéia do texto, e o título foi o melhor..
gostei mesmo, escreves bem.
vim agradecer o comentário e acabei levando uma idéia para casa, bom.
gostei, parabéns.
voltarei mais vezes.
abrá.
:)